Otites na Criança
O que é otite?
Otite é um nome genérico para inflamação do ouvido (ou orelha, como os otorrinos preferem chamar). A otite pode ser externa, quando o problema está na pele do canal do ouvido (conduto auditivo) ou otite média quando a inflamação está na membrana do tímpano e atrás dela, na região que leva o nome de orelha média.
Portanto os termos "otite externa" e "otite média" se referem ao local que está inflamado (pele do conduto auditivo ou mucosa atrás da membrana do tímpano). Otite média nada tem a ver com uma otite de "média intensidade". Tampouco existe uma "otite interna", ao contrário do que a lógica faz concluir.
Quando o otorrino (ou o pediatra) examina o ouvido, identifica facilmente se trata-se de uma otite externa ou otite média, dependendo do que encontra inflamado. Essa é uma informação preciosa, porque o tratamento da otite externa é bem diferente do da otite média. A otite externa responde bem às famosas gotinhas que as mães estão acostumadas a pingar no ouvido das crianças nessas horas. Já para uma otite média as gotas otológicas têm pouco ou nenhum efeito, porque o problema está atrás da membrana do tímpano e a gota não atravessa a membrana, necessitando a criança nesse caso de um antibiótico oral.
Veja as principais diferenças entre otite média e otite externa:
Otite Externa | Otite Média |
Inflamação da pele do canal do ouvido (conduto auditivo). |
Inflamação da mucosa que fica atrás da membrana do tímpano. |
Costuma acontecer depois da criança molhar o ouvido (praia, piscina) ou manipular o ouvido (cotonete). |
Costuma acontecer após ou durante um resfriado. |
Pode ser resolvida com gotas otológicas. |
Não responde bem às gotas otológicas e geralmente necessita de tratamento com antibióticos e analgésicos por via oral. |
Faz diferença proteger o ouvido para não molhar, o que agiliza a recuperação. |
Não faz tanta diferença proteger o ouvido para não molhar, a não ser que tenha havido perfuração do tímpano. |
Pode sair uma quantidade pequena de secreção purulenta. |
Só haverá saída de secreção se a membrana do tímpano perfurar, dando vazão a uma quantidade maior de secreção líquida e purulenta. |
Por que algumas crianças têm muitas otites?
Novamente, as causas variam de acordo com o tipo de otite: otites externas de repetição ou otites médias de repetição.
No caso das otites externas, tanto em crianças quanto em adultos, uma das principais causas de recorrência é justamente a manipulação do conduto auditivo. Usar cotonete, coçar com a unha ou tentar "remover cera" de várias formas acaba machucando a pele do conduto e gerando inflamações recorrentes. É bem verdade que em muitos casos a criança faz isso porque sente coceira, devendo-se então tratar o prurido com medicação tópica (gotas de ouvido) para quebrar o ciclo vicioso.
Outras vezes as otites externas recidivam porque não foram tratadas adequadamente. A pele do ouvido ainda está vermelha (inflamada), mas causando poucos sintomas. Aí basta uma pequena agressão (manipulação, ou manter a pele úmida por muito tempo) para a infecção voltar.
Algumas pessoas têm realmente uma propensão a otites externas e devem tomar um cuidado maior para manter a pele do conduto auditivo seca, usando tampões para mergulhar. O uso do tampão, no entanto, não é necessário para todos os casos, muito menos recomendado para pessoas que não tenham otites de repetição.
Em relação à otite média, as causas são bem diferentes e o controle da recorrência mais difícil.
A otite média costuma advir de um quadro de resfriado, mas isso não é obrigatório. Algumas crianças reclamam de muita dor no ouvido, mas sem febre, enquanto outras apresentam febre alta quase sem dor de ouvido (otite silenciosa). Ou seja, os sintomas variam bastante.
São fatores predisponentes frequentes de otites médias de repetição na criança:
1) Aumento do tamanho das adenoides
Essa é uma das causas mais frequentes de otites de repetição. A adenoide aumentada (hipertrófica), além de levar a criança a roncar e respirar pela boca, também causa otites de repetição. Isso porque existe uma comunicação do ouvido com a garganta chamada tuba auditiva, que desemboca na garganta bem do lado de onde fica a adenoide. Se a adenoide está aumentada, pode obstruir a saída desse túnel, impedindo o fluxo de ar adequado da orelha média e causando otites.Veja mais sobre isso aqui.
2) Rinite alérgica
É bem verdade que existe uma certa controvérsia na literatura científica em torno da ideia que a rinite alérgica aumenta o número de otites. Mas a maioria dos otorrinolaringologistas acaba incluindo o tratamento para rinite alérgica como uma das formas de evitar as otites de repetição.
3) Creche e escola
É bastante comum a criança ficar várias vezes resfriada e com otites logo depois que começa a frequentar a creche ou escola, ou ainda quando muda de escola. Isso porque ela está entrando em contato com um pool (conjunto) de novos germes contra os quais não tem ainda imunidade.
Surtos de virose na escola, que podem causar otites, também são quase inevitáveis. Sempre que a criança estiver resfriada, convém afastar da escola por dois ou três dias, mas sabemos das dificuldades dos pais que trabalham de organizar suas vidas para manter as crianças em casa sem aviso prévio. O resultado é que as viroses realmente se espalham, e podem ter gravidade diferente em cada criança.
4) Cigarro (Tabagismo)
Está mais que comprovado que crianças cujos pais fumam têm mais otites por conta do fumo passivo. Portanto, não há muito mais o que dizer nesses casos a não ser "pare de fumar". Traz um benefício enorme para pais e filhos.
5) Aleitamento materno
É bem sabido que crianças que não mamam no peito até os 6 meses de vida têm mais otites do que as que estão em aleitamento materno. O leite materno transfere para a criança anticorpos e células de defesa. Além disso desenvolvem a musculatura orofacial e diminuem o refluxo, o que também diminui as chances de otites.
6) História familiar
Crianças cujos irmãos ou pais tiveram otites de repetição têm mais chance de desenvolvê-las também, provavelmente por uma predisposição genética.
7) Causas mais raras
Dentre algumas causas mais raras, que podem ser investigadas, estão as deficiências de imunoglobulinas e a alergia ao leite de vaca.
O que fazer para acabar com as otites de repetição na criança?
A palavra principal é ACOMPANHAR. A criança com otites de repetição deve ser acompanhada de perto por um otorrinolaringologista. Ele vai tentar identificar os fatores predisponentes (como os citados acima) e atuar sobre eles, utilizar medicações sintomáticas nas gripes e resfriados para tentar evitar que elas se transformem em otites e ainda decidir se há necessidade de antibióticos, procurando minimizar o seu uso.
É interessante dizer que o exame do ouvido de uma criança que tem otites de repetição pode não ser "normal", mesmo quando a criança NÃO está com otite média naquele momento. Muitas vezes a membrana timpânica assume uma coloração diferente, torna-se mais espessa, e isso pode levar alguns pediatras a optarem por iniciar antibiótico quando na verdade não haveria necessidade. Por isso é realmente importante um acompanhamento sempre com o mesmo médico.
A vacinação, tanto contra gripe quanto contra o pneumococo (vacina anti-pneumocócica), também é uma medida importante de prevenção de novas otites.
Outras vezes, dependendo da frequência e gravidade das otites, é preciso fazer uma intervenção cirúrgica, em especial por causa das adenoides, ou ainda para colocar um carretel (tubo de ventilação) no ouvido..
O que é o carretel (tubo de ventilação)?
O tubo de ventilação é uma espécie de tubo de comunicação que inserimos na membrana timpânica para manter um orifício aberto nela, de modo a drenar a secreção acumulada no ouvido. É feita uma pequena incisão na membrana do tímpano e colocado o tubo, que faz assim a comunicação da orelha média com a orelha externa, permitindo a entrada de ar e a saída do catarro acumulado.
O carretel é necessário por vezes para solucionar as otites de repetição, em especial quando há líquido (catarro) acumulado na orelha média dificultando a audição da criança.
Dr. Krishnamurti Sarmento Junior
- Médico formado há 20 anos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
- Otorrinolaringologista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
- Pós-Graduado em microcirurgia pela Universidade de Zurich - Suiça.
- Mestre em Cirurgia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
- Doutor em Medicina pela Universidade de Brasília - UnB.
- Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Policlínica da PMDF.
- Membro titular da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.
Área Da Criança
Problemas otorrinolaringológicos são mais comuns na infância: