Otosclerose

Otosclerose é uma doença genética que causa perda auditiva. Apesar da pessoa já nascer com o gene causador da doença, a perda auditiva da otosclerose só costuma se manifestar a partir da terceira ou quarta década de vida. O portador de otosclerose começa então a apresentar uma perda auditiva progressiva, em geral assimétrica (mais em um ouvido que em outro), muitas vezes acompanhada de zumbido e uma leve tontura.

Por ser uma doença genética, em cerca de 60% dos casos há uma história de perda auditiva na família. Essa história, contudo, pode estar ausente, pois em alguns casos a mutação genética surge naquele paciente. Uma pessoa portadora de otosclerose tem cerca de 30% de chance de passar a doença para os filhos, o que não significa necessariamente que estes filhos irão manifestar a doença (as mulheres manifestam mais a doença que os homens).

A progressão da perda auditiva quase nunca evolui para surdez completa, mas pode chegar a 70% da audição em algumas frequências (veja aqui uma explicação genérica sobre como se mede a perda auditiva).

O que causa a perda auditiva na otosclerose?

Como pode ser visto no vídeo abaixo, a otosclerose é causada por uma fixação de um dos ossículos que estão dentro da orelha média: o estribo. Como o estribo deixa de vibrar adequadamente, o som não é transmitido como deveria para a orelha interna, levando à perda auditiva.

Quais são as possibilidades de tratamento?

Há como recuperar a perda auditiva causada pela otosclerose (recuperar a audição) na grande maioria dos casos, através de uma cirurgia chamada estapedotomia (antigamente chamada também de estapedectomia). Essa cirurgia substitui o estribo (ossículo que está com defeito) por uma prótese minúscula, reestabelecendo a vibração adequada da cadeia ossicular. A cirurgia é feita com o auxílio de um microscópio.

Os pacientes com otosclerose também podem optar por usar um aparelho auditivo, caso não queiram operar.

O meu médico me disse que a cirurgia para otosclerose pode me deixar surdo ou pode me causar paralisia facial. Isso é verdade? Então não é melhor usar o aparelho auditivo mesmo?

Esta é uma meia-verdade. O objetivo da cirurgia é melhorar a audição do paciente. Se o risco de piora dessa audição fosse grande, a cirurgia já teria sido abandonada.

A taxa de sucesso com a cirurgia de otosclerose está em torno de 95%. Uma piora da audição pode ocorrer em menos de 2% dos casos e a surdez como complicação da cirurgia só ocorre, estatisticamente, em cerca de 0,3% dos casos. O risco de paralisia facial é menor ainda.

Ora, tudo na vida envolve risco. Atravessar a rua é um risco. Se alguém lhe perguntar "Você me garante que nada vai dar errado se eu sair de casa hoje e atravessar a rua?", sua resposta tem que ser "não há como garantir isso". Afinal, a pessoa pode ser atropelada. Isso acontece o tempo todo. Todos nós conhecemos alguém ou já ouvimos histórias de pessoas que foram atropeladas. Mas por esse raciocínio a conclusão dessa pessoa poderia ser "então é melhor nunca mais sair de casa...".

Da mesma forma, é claro que qualquer cirurgia envolve um risco de complicação. Da mesma forma, todos nós temos um conhecido ou já ouvimos alguma história de pessoas que operaram e tiveram complicações. Agora, daí a concluir "então é melhor não operar", há uma distância grande. Como em tudo na vida, temos que pesar o risco e o benefício. Se o risco não é grande e o benefício compensa, vale a pena fazer. É esse raciocínio que está implícito em nossa decisão de sair de casa todas as manhãs. E é esse o raciocínio que deve permear a nossa decisão sobre a cirurgia.

Não quero com isso fazer uma apologia à cirurgia. A decisão, em última instância, é sempre do paciente. Ele tem o direito de conhecer suas opções de tratamento, que nesse caso são a cirurgia ou o uso de um aparelho auditivo. Mas, quando escuto aquela famosa pergunta "se fosse o senhor ou a sua filha, o que o senhor faria?", respondo com toda sinceridade que faria a cirurgia.